Já li vários textos sobre o que leva
uma pessoa a escrever. Bem, quero dizer as razões e argumentos dos escritores
propriamente ditos e consagrados e as razões de outros escritores não tão
propriamente ditos assim como eu. Ontem mesmo li um artigo sobre isso no
“Portal o Dia” em que alguns articulistas abordam essa questão do escrever,
algo como o que define um escritor? A quantidade de obras publicadas, o
conteúdo, o tamanho do público, as críticas? E falam sobre um fato que eu
desconhecia: que o escritor Álvares de Azevedo que morreu muito cedo nunca teve
uma obra publicada em vida, o que não o fez ou não o faz menos escritor.
Clarice Lispector dizia que escrevia
por um puro prazer que ela afirmava não conseguir traduzir. Dizia ela: “escrevo
para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes
chorando.” Li também um artigo do Frei Betto em que ele diz que escreve para
construir sua própria identidade, e ainda mais bonito com suas próprias
palavras: “para lapidar esteticamente as estranhas forças que emanam de meu
inconsciente”. Entretanto, ele mesmo se pergunta se teria sido um escritor sem
o incentivo de certos professores e do próprio exemplo do pai e da mãe que
também escreviam.
Seja lá como for, quem escreve
deveria sempre se fazer esta pergunta: por que escrevo? Eu? Não sei. Talvez
porque meu pai escreveu um livro de memórias, meu tio e meu primo escreveram livros
de poemas. A gente acaba achando mais de uma razão. Para mim, escrever é
difícil, ou melhor, não é fácil, penso que uma coisa não é igual à outra, que
difícil não é a mesma coisa que não fácil. É que a palavra difícil tem uma conotação
de trabalho cansativo, sugere um esforço enjoado e na verdade tenho comigo que
escrever não é assim.
Para
mim, escrever é trabalho que dá prazer, é um quebra-cabeça que consigo montar
até o final, sempre encaixando uma peça em outra, é o bordado delicado com as
letras e palavras que nunca aprendi com as rendas e linhas. Às vezes escrever é
mais fácil quando, por exemplo, recebo a visita inesperada da bendita
inspiração que, generosa, chega carregada de malas abarrotadas de ideias
geniais. Mas na maioria das vezes tenho mesmo que acordar as palavras
preguiçosas que insistem em dormir me deixando sozinha no meio de espaços vazios
e pontos de interrogação. Aí leio, vou às fontes, mas o texto só nasce depois
que digito a primeira palavra. Aí vem outra palavra invejosa, mais outra, até
que muitas me imploram de joelhos para participar do texto. É uma palavra que puxa
outra, uma ideia que traz mais duas e o artigo sai. É trabalho sim, porém
quando acabo, ah é gostoso, fico só arrumando aqui e ali, procurando a palavra
mais adequada ou mais sonora, enfim a que se ajusta mais com este ou aquele
assunto.
Dizem que a gente não é escritor, a gente se
torna escritor, à medida que o escrito toma asas e já vive por conta própria,
algo como o filho que cresce e se torna independente. Um livro pronto é até
comparado com o parto, só que nem bem nascido, o filho deixa de ser nosso, já
não nos pertence. Para o escritor o tempo de cuidados é quando ele começa a
abrigar uma ideia, é o tempo da imaginação, depois o da composição, até que
enfim o livro ou o artigo é lançado. A partir daí o leitor se encarregará de
usufruir daquela mensagem que para ele será importante ou inspiradora naquele determinado
momento da leitura.
Bem, escrevo para contar histórias, escrevo
por uma necessidade imperiosa de registrar fatos e acontecimentos que sinto que
não podem se perder com o tempo. Escrevo para dividir com os outros minha
própria história que se revela direta ou indiretamente através de meus escritos
reais e fictícios. Parodiando Frei Betto, escrevo para ser feliz, para ter
prazer. Escrevo porque sou vaidosa e narcisista, mas me perdoo com o pretenso e
ilusório consolo de que quase todo autor também é.
O que mais? Escrevo
porque o mundo me encanta, a morte me amedronta e a vida me espanta.
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