sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Por que escrevo?




            Já li vários textos sobre o que leva uma pessoa a escrever. Bem, quero dizer as razões e argumentos dos escritores propriamente ditos e consagrados e as razões de outros escritores não tão propriamente ditos assim como eu. Ontem mesmo li um artigo sobre isso no “Portal o Dia” em que alguns articulistas abordam essa questão do escrever, algo como o que define um escritor? A quantidade de obras publicadas, o conteúdo, o tamanho do público, as críticas? E falam sobre um fato que eu desconhecia: que o escritor Álvares de Azevedo que morreu muito cedo nunca teve uma obra publicada em vida, o que não o fez ou não o faz menos escritor. 
            Clarice Lispector dizia que escrevia por um puro prazer que ela afirmava não conseguir traduzir. Dizia ela: “escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando.” Li também um artigo do Frei Betto em que ele diz que escreve para construir sua própria identidade, e ainda mais bonito com suas próprias palavras: “para lapidar esteticamente as estranhas forças que emanam de meu inconsciente”. Entretanto, ele mesmo se pergunta se teria sido um escritor sem o incentivo de certos professores e do próprio exemplo do pai e da mãe que também escreviam.
            Seja lá como for, quem escreve deveria sempre se fazer esta pergunta: por que escrevo? Eu? Não sei. Talvez porque meu pai escreveu um livro de memórias, meu tio e meu primo escreveram livros de poemas. A gente acaba achando mais de uma razão. Para mim, escrever é difícil, ou melhor, não é fácil, penso que uma coisa não é igual à outra, que difícil não é a mesma coisa que não fácil. É que a palavra difícil tem uma conotação de trabalho cansativo, sugere um esforço enjoado e na verdade tenho comigo que escrever não é assim.
Para mim, escrever é trabalho que dá prazer, é um quebra-cabeça que consigo montar até o final, sempre encaixando uma peça em outra, é o bordado delicado com as letras e palavras que nunca aprendi com as rendas e linhas. Às vezes escrever é mais fácil quando, por exemplo, recebo a visita inesperada da bendita inspiração que, generosa, chega carregada de malas abarrotadas de ideias geniais. Mas na maioria das vezes tenho mesmo que acordar as palavras preguiçosas que insistem em dormir me deixando sozinha no meio de espaços vazios e pontos de interrogação. Aí leio, vou às fontes, mas o texto só nasce depois que digito a primeira palavra. Aí vem outra palavra invejosa, mais outra, até que muitas me imploram de joelhos para participar do texto. É uma palavra que puxa outra, uma ideia que traz mais duas e o artigo sai. É trabalho sim, porém quando acabo, ah é gostoso, fico só arrumando aqui e ali, procurando a palavra mais adequada ou mais sonora, enfim a que se ajusta mais com este ou aquele assunto.
             Dizem que a gente não é escritor, a gente se torna escritor, à medida que o escrito toma asas e já vive por conta própria, algo como o filho que cresce e se torna independente. Um livro pronto é até comparado com o parto, só que nem bem nascido, o filho deixa de ser nosso, já não nos pertence. Para o escritor o tempo de cuidados é quando ele começa a abrigar uma ideia, é o tempo da imaginação, depois o da composição, até que enfim o livro ou o artigo é lançado. A partir daí o leitor se encarregará de usufruir daquela mensagem que para ele será importante ou inspiradora naquele determinado momento da leitura.
            Bem, escrevo para contar histórias, escrevo por uma necessidade imperiosa de registrar fatos e acontecimentos que sinto que não podem se perder com o tempo. Escrevo para dividir com os outros minha própria história que se revela direta ou indiretamente através de meus escritos reais e fictícios. Parodiando Frei Betto, escrevo para ser feliz, para ter prazer. Escrevo porque sou vaidosa e narcisista, mas me perdoo com o pretenso e ilusório consolo de que quase todo autor também é.  
O que mais? Escrevo porque o mundo me encanta, a morte me amedronta e a vida me espanta.

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