terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Carnaval em Pedra Branca em 1935 - Trecho do livro "Luzes do Passado" do Tote, meu pai



            O carnaval em Pedra Branca sempre foi uma festa de muita animação, mas a do ano de 1935 não resta dúvida que foi a maior, que deixou saudades para todos, até para mim, que na época era um adolescente de 16 anos, que gostava muito de música carnavalesca. Confesso que não tinha uma boa voz, que se misturava com as vozes do povo folião. Dizem que no carnaval canta-se de qualquer jeito, afinado ou não; o principal é expandir a alegria, o entusiasmo, qualidade que contamina qualquer um. O carnaval de 1935 foi muito bem organizado e tudo feito com a maior antecedência para não esquecer os pequenos detalhes. Foram muitos blocos dos quais ninguém tinha conhecimento e que só apareceram nos dias de carnaval, para receber aplausos da multidão, pela beleza e originalidade.   
            Pelo tempo decorrido, não me lembro o nome de nenhum bloco, mas daquele em que eu desfilei, este ficou gravado e não era bem um bloco, mas um simples caminhão, no qual foi alojado o “JAZ-BAND”, que animou todos os bailes e que as principais figuras eram o Gaspar Carneiro, o Finfa, o Silvio Faria, marido da Ditinha, este tomava conta da bateria e, ao mesmo tempo, era o cantor nomeado. Não era um conjunto musical dos mais afamados, mas que deu conta do recado, isto lá deu, e que nas voltas pelas ruas da cidade recebia palmas pelas músicas executadas e de todos aqueles que apareciam nas janelas das casas.
            Lembro-me que fui admitido no caminhão por uma cortesia dos integrantes, e usava uma fantasia, se isto podia ser chamado de fantasia, constava apenas de uma camisa de malandro, e a Bába, minha tia, me fez uns desenhos no rosto a carvão, de forma que estava muito bem caracterizado. Não me esqueci deste detalhe. O clube onde foram realizados os bailes era o prédio onde hoje é casa do Enéas, na parte superior, e ficava superlotado, cada um mais folião que o outro e havia os puxadores de cordão, que arrastavam para o meio do salão todas as pessoas, mesmo aquelas que não tinham muito jeito para brincar. Lembro-me do Sr. Abel Bustamante e do Sr. Maximiano Ribeiro, aquele que foi Coletor Estadual de Pedra Branca por algum tempo. E lá no clube, no meio de toda aquela brincadeira, os dois foram alvos de uma cena que provocou risos gerais. O Sr. Abel Bustamante, em determinado momento, com um frasco de lança perfume na mão, foi para cima do Sr Ribeiro e quebrou o vidro em sua careca, derramando todo o conteúdo pelo rosto abaixo. A verdade é que ninguém se danou, ninguém se feriu, ninguém se machucou, tudo foi levado à conta da alegria, da brincadeira e da festa que o carnaval proporciona a todos.
            Foi, na minha opinião, o carnaval mais bonito que eu tomei parte, talvez porque todos os moradores da cidade marcaram presença, deram o seu apoio e contribuíram para o maior brilhantismo da festa.

            Só o carnaval de 1935 ficou gravado na minha memória, não me lembrando de outros na cidade.  A minha participação foi muito ativa e de bom proveito, deixando-me inteiramente satisfeito.   

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