Quando eu estava no colégio, ainda mocinha,
veio uma senhora fazer uma palestra sobre “família feliz”. Nunca me esqueci de
que ela dizia que tudo estava nas mãos da mulher, ou seja, a chave da
felicidade da família. E que tal felicidade dependeria unicamente, segundo ela,
da capacidade da mulher de compreender o estado de espírito de todos, e com
incrível e hercúlea habilidade, reverter um mau humor aqui e ali, salvando tudo
e todos. E o homem? E os filhos? Então cá eu fico pensando com meus botões, e reflito
como sempre tanto foi exigido da mulher, quanto peso foi colocado em suas
costas. Evidentemente que aquela palestra foi no tempo antigo, e óbvio que quase
nunca haverá uma mulher assim com tamanha sabedoria e tanta perfeição. Sabemos
que cada pessoa tem um temperamento, e que a felicidade sempre vai escapar não
se deixando aprisionar a não ser por pequenos e poucos momentos. Caras feias,
indiretas e diretas fazem parte da vida e do dia a dia, mas nada que não se
resolva com o perdão diário.
O homem, de maneira geral, salvo
raríssimas exceções, ainda espera chegar a casa e encontrar uma mulher
perfeita. Mas gente, ele também poderia ter uma cópia da chave da felicidade. Feliz
o homem que se dispõe a lavar a louça, que também ajuda os filhos com as
tarefas da escola e ainda sabe acolher sua mulher com um abraço apertado e
momentos de amor. Feliz o homem que consegue compreender, melhor dizendo, que
consegue aceitar as sutilezas da alma feminina. São poucos, viu?
Uma
conhecida me contou que lá pelos idos de 70, após casar-se foi morar em
Brasília. O marido só chegava à noite, e ela morria de saudades da família aqui
em Minas. Chegou num ponto tal que um dia, ao entrar em casa ele deu com a mulher
chorando sentada em cima da mala já pronta. Assustado, pensou que talvez alguém
tivesse morrido, mas ela, entre soluços entrecortados lhe disse que eram só
saudades, que sentia falta da mãe, das irmãs, que ia embora. Ele teve a maior
paciência, abraçou a moça no abraço mais carinhoso de que foi capaz. Ela
desistiu de voltar para Minas e eles foram felizes para sempre. Feliz o homem
que sabe acolher as lágrimas de uma mulher que nem mesmo sabe por que chora,
talvez a saudade da família, ou uma cena de filme, ou uma foto de alguém
querido que já se foi, ou ainda pura e simplesmente uma ebulição dos hormônios.
As mulheres são seres estranhos mesmo: são tão frágeis e delicadas como fortes
e intensas!
Há
mulheres que se contentam apenas com o trabalho de mulher, mãe e dona de casa.
Tudo bem. Cada uma é cada uma. O foco é tentar ser feliz. Mas há outras que são
dotadas de asas e ânsias. Querem voar, querem conquistar, almejam mais do que
viver entre as paredes da casa. Certíssimo. Que vão e voem em busca de seus
sonhos. Impossível não me lembrar de minha mãe que sempre dizia: se eu tivesse
tido oportunidade, teria estudado “leis”. E agora voltando no tempo, acho mesmo
que ela teria sido uma brilhante advogada ou talvez uma imponente juíza. Seu porte
e seu jeito de ser não era para menos. E finalizo com a fala de Adélia Prado,
que homenageia as mulheres anônimas e simples: “... exijo a sorte comum das
mulheres nos tanques, das que jamais verão seu nome impresso e, no entanto
sustentam os pilares do mundo, porque mesmo viúvas dignas não recusam
casamento, antes acham o sexo agradável, condição para a normal alegria de
amarrar uma tira no cabelo e varrer a casa de manhã.”
Para
os homens deixo um conselho precioso que ninguém pediu, mas dou assim mesmo:
querem ser tratados como reis? Então façam suas mulheres se sentirem rainhas. É
infalível!
Parabéns
para nós todas, mulheres maravilhas e maravilhosas que curtimos testar novas receitas,
que curtimos ler, escrever, fazer sexo, cantar, cuidar de casa, do bebê,
trabalhar no que gostamos e ainda curtimos um sapato bonito em alguma vitrine
de uma loja qualquer.
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