Não entendendo
absolutamente nada de política, ouso dar meus pitacos sem entrar em detalhes
sórdidos sobre os últimos acontecimentos que preocupam e abalam o país. Mas
mesmo sem entender de política, posso perguntar: o que eu quero como cidadã? O
que todos querem, ou seja, um país governado por pessoas de bem, por políticos
corretos e honestos, que lutem pela prosperidade do país, por oportunidades
para todos, acesso à saúde, educação, ver os altos impostos que pago serem aplicados
corretamente e blá blá blá. Por que isso soa tão irreal? Tão distante como um
sonho impossível? Não deveria ser assim. Tudo o que sei é que o país foi
saqueado, pilhado, não me importa se por quem veio antes ou depois, pois para
mim são todos farinha do mesmo saco, e todos os corruptos, A, B, Z deveriam ser
punidos.
E
fico me perguntando por que esses políticos querem tanto dinheiro. O que já
recebem pelos nobres serviços é tanto, mas tanto, sem incluir as vantagens com
moradia, passagens, gasolina, assessores, assessores de assessores, empregados
e sabe-se lá mais o que. O que me espanta é a ganância. Esfolaram o gigante sem
dó nem piedade. Todas as vezes que penso na política, vem o Brasil a minha
mente como a imagem de um elefante com bandos de facínoras que lhe arrancam as
presas de marfim enquanto o animal, ainda vivo, urra de dor. Depois sobem em
cima de seu corpo e erguem com orgulho a bandeira da perversidade, sem nenhum
pejo. É assim que vejo os políticos de meu país. Depois de vender o produto de
seu crime, vão guardar o dinheiro lá nos paraísos fiscais e fazem tantas
falcatruas, tanto e tanto que acabam por acreditar que isto é normal. Não é
assim mesmo que funciona? Uma mentira repetida muitas vezes não se torna
verdade para quem mente? E babas e babas de dinheiro. E não há o que chegue.
Bem,
pergunto de novo: por que um país feito de políticos corretos e honestos soa
tão irreal, tão distante como um sonho impossível? Porque a política, tal qual
o futebol é uma arte, e arte é beleza, mas transformaram essas belas artes em
comércio. Bismarck dizia que “a política não é uma ciência exata como imaginam
muitos dos senhores professores, mas uma arte”. Há muito que nos faltam
líderes, quero dizer, líderes de verdade, não estes políticos que aí estão. Por
que não os encontramos mais? Porque um líder é agraciado com o dom de ser líder,
ele nasce líder, afinal todos nós nascemos com dons. E líderes políticos em
nosso país são uma raça em extinção. O verdadeiro estadista no passado descobria
que era um líder porque aprendeu a cultivar um sonho e um ideal. Se hoje nos
faltam líderes, de fato, é porque matamos os sonhos e os ideais, coisas que são
muito mais, infinitamente mais valiosas do que as malas de dinheiro e contas
nos paraísos fiscais. O último líder nato que um dia trouxe em seu peito sonhos
e ideais parece também ter sido seduzido e corrompido. Diz a Bíblia que se não
multiplicarmos os dons que de graça recebemos, eles nos serão tirados. Também é
costume dizer que todos têm o seu preço, e em nosso país, o preço é alto.
Bem,
comparam a paixão do povo pelo futebol com a paixão pelos partidos políticos.
É. Paixão é paixão. E paixão é perigosa porque cega as pessoas, destrói tudo,
destrói as relações de amizade, de família, faz as pessoas alimentarem os
demônios que trazem dentro de si e as tornam capazes de tudo, até matar e
morrer. Mas quero voltar aos líderes, e também quero falar dos craques de
futebol que também já não são os mesmos. Ainda temos alguns poucos que ainda
são capazes de mostrar a arte do jogo como algo belo. Como não chamar de arte a
dança fascinante dos dribles de jogadores como Garrincha de pernas tortas? E veja
que os jogadores daquela época iam com a roupa do corpo para os outros países,
modo de dizer. Iam de cara lavada, sem tintura e penteado no cabelo, sem
brincos e sem modas. Levavam apenas seu dom de jogar, sua arte e seu sonho de
vencer, e venciam e venceram.
Tivemos
políticos assim também. Alguns já eram ricos, outros pobres, mas o sonho e o
ideal de bem governar já traziam desde crianças. Na juventude, o sonho
amadurecia e explodia dentro do peito e nada os segurava. E quando tornavam-se
políticos atuantes, demonstravam incrível habilidade de articulação, de
discurso, de ações honestas. O coração ardia de emoção e amor pelo país. Como
não chamar de arte a habilidade de articulação dos antigos políticos? Como não
chamar de arte o sonho de elevar seu país, expurgando a miséria? Evidentemente
que uma corrupção aqui e ali sempre existiu em todos os lugares, mas vamos e
venhamos, fazer da corrupção uma prática normal e corriqueira, saquear as empresas
do próprio país como hordas de bárbaros em terras estrangeiras, sem deixar um
vintém?Arquitetar planos de corrupção com tamanha frieza? Uma empreitada corrupta
generalizada em que não escapa um político sequer que seja honrado? Assassinaram
a beleza da arte na política.
O
mundo mudou, o país mudou, os valores mudaram. O mercantilismo infiltrou-se de
tal forma nas instituições que foi corroendo tudo. Sabemos que não se faz
campanha política sem muito dinheiro. Sempre o dinheiro, dinheiro e dinheiro. E
aí a derrocada moral tem início. Faz-se de tudo, a princípio para comprar o
ingresso na vida política, depois para viver nababescamente no luxo e no
prazer, dar festas que fariam Nabucodonosor corar de vergonha nos jardins
suspensos da Babilônia. A grande maioria não tem o dom da arte política, não
nasceu para isso e os poucos que têm perderam este dom, corrompidos pelo
dinheiro, pelo poder, pela grandeza e honrarias. A derrocada moral e mudança de
valores também estão presentes no povo que está nas ruas gritando obscenidades
rimadas para orquestrar uma torcida tresloucada. Por que não se ater a palavras
de ordem? Por que baixar o nível?
Se eu tivesse hoje o poder para mudar a
educação do país, eu incluiria uma nova disciplina: “sonhos e ideais”. Isso
porque as crianças e jovens já não sabem o que seja perseguir um sonho,
cultivar um ideal e ainda apreciar a beleza. Sim, eu incluiria a “Beleza da
Arte”. Quem sabe um dia poderemos voltar a ter fé na humanidade, e ver surgirem
verdadeiros líderes políticos honestos com o peito inflamado de amor pelo seu
país.
Tudo
isso faz-me lembrar de Santa Catarina de Sena que dizia mais ou menos assim: “Os
homens são capazes de enfrentar as mais terríveis adversidades, atravessar
mares, desbravar florestas e enfrentar enormes perigos para conquistar riquezas,
honra e fama. Mas não são capazes de lutar para conquistar uma única virtude
que seja”. E pensar que virtudes são a riqueza maior...
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