sábado, 30 de abril de 2016

Sant'Ana






Seu nome era Sant’Ana, pelo menos assim era chamada. Foi uma mulher inesquecível. Alta, magra. Já mais velha ... quantos anos teria? Difícil dizer, naquela época as pessoas envelheciam tão cedo e Sant’Ana não possuía documentos. Morava sozinha numa das casinhas da Vila de São Vicente desde não sei quando. Sant’Ana caiu nas graças de minha mãe que se lembrava dela a vida toda com muita admiração. Ela chegava a nossa casa para fazer algum trabalho como lavar e passar roupas ou mesmo cozinhar. Não falava, era surda e muda. Fazia gestos para se comunicar. Minha mãe que sempre foi mulher religiosa e muito enamorada de Deus, ficava encantada com Sant’Ana quando ela entrava pela nossa casa. Ela se inclinava numa reverência piedosíssima diante de cada imagem de santo e de cada cruz e permanecia alguns momentos com as mãos cruzadas no peito em profundo silêncio que já era seu. E olha que mais imagens e quadros de santos que em nossa casa, só na igreja matriz. Sant’Ana não falava, só pensava. Quando entrava na igreja, isso eu bem me lembro, ela ia de santo em santo naquele andar piedoso e inclinava-se cheia de veneração, sempre no silêncio sagrado do seu jeito de viver.
Às vezes, eu que falo muito, penso como deve ser gostoso descansar no silêncio e peço, Nossa Senhora, me ensina o seu silêncio e fazer reverências como as de Sant’Ana..

As reverências de Sant’Ana eram verdadeiríssimas. Acho que Sant’Ana era santa. Tomara que lá no céu, ela e minha mãe estejam juntas fazendo santas reverências diante de Deus Santíssimo. Amém.

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