Seu
nome era Sant’Ana, pelo menos assim era chamada. Foi uma mulher inesquecível.
Alta, magra. Já mais velha ... quantos anos teria? Difícil dizer, naquela época
as pessoas envelheciam tão cedo e Sant’Ana não possuía documentos. Morava
sozinha numa das casinhas da Vila de São Vicente desde não sei quando. Sant’Ana
caiu nas graças de minha mãe que se lembrava dela a vida toda com muita
admiração. Ela chegava a nossa casa para fazer algum trabalho como lavar e
passar roupas ou mesmo cozinhar. Não falava, era surda e muda. Fazia gestos
para se comunicar. Minha mãe que sempre foi mulher religiosa e muito enamorada
de Deus, ficava encantada com Sant’Ana quando ela entrava pela nossa casa. Ela
se inclinava numa reverência piedosíssima diante de cada imagem de santo e de
cada cruz e permanecia alguns momentos com as mãos cruzadas no peito em
profundo silêncio que já era seu. E olha que mais imagens e quadros de santos
que em nossa casa, só na igreja matriz. Sant’Ana não falava, só pensava. Quando
entrava na igreja, isso eu bem me lembro, ela ia de santo em santo naquele
andar piedoso e inclinava-se cheia de veneração, sempre no silêncio sagrado do
seu jeito de viver.
Às
vezes, eu que falo muito, penso como deve ser gostoso descansar no silêncio e
peço, Nossa Senhora, me ensina o seu
silêncio e fazer reverências como as de Sant’Ana..
As
reverências de Sant’Ana eram verdadeiríssimas. Acho que Sant’Ana era santa.
Tomara que lá no céu, ela e minha mãe estejam juntas fazendo santas reverências
diante de Deus Santíssimo. Amém.
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