quarta-feira, 8 de junho de 2016

ESCASSEZ E PROSPERIDADE



           
Ontem comprei uma bolsa. Não precisava, mas comprei. Ao entrar em casa com o pacote, senti uma pontinha de arrependimento porque quebrei minha meta de não comprar nada que não seja absolutamente necessário. Aliás, no momento não se trata de querer ou não querer, mas de não poder. O orçamento está apertado, eu sei, mas sou mulher, e por que diabos as bolsas e sapatos exercem tamanho fascínio sobre as mulheres? Sucumbi, pronto. Amanhã começo meu dia com novas e boas intenções de conter os gastos desnecessários. Se fosse um livro, eu me sentiria mais consolada.
Enfim, li um artigo sobre o livro “Prosperidade sem crescimento”, do britânico Tim Jackson, lançado no Brasil em novembro de 2013. Em uma entrevista, o autor questionou o crescimento econômico como sinal de prosperidade, argumentando que prosperidade engloba muito mais do que comprar, acumular e descartar. Este crescimento tão almejado principalmente pelos países em desenvolvimento é calcado no modelo econômico ocidental baseado no famigerado consumismo. Segundo Jackson, ser próspero não significa poder comprar coisas e mais coisas, mas estar bem, e enfatiza que algumas vezes a expansão da economia pode enfraquecer a prosperidade que queremos.
O escritor também lembrou que em 2050 haverá 9 bilhões de pessoas na Terra, e este modelo de crescimento econômico que foi considerado símbolo de progresso do século passado tem contribuído cada vez mais para causar impacto no meio ambiente. Para reverter este quadro e lutar por uma vida melhor, ele nos convida para um desafio: fazer o caminho de volta, libertar-se dessa ideia obsessiva de crescimento econômico, libertar-se da cultura do consumo que nos foi praticamente imposta, subliminarmente, é verdade, mas foi, assim como uma dose diária de veneno que somente a longo prazo revela seu nefasto resultado. Esta cultura do consumo veio ao encontro do egoísmo inerente ao homem, de sua necessidade de ter e exibir um status perante o grupo. Porém o próprio homem se tornou um prisioneiro em sua “gaiola de ferro”, expressão usada por Jackson para a dependência do consumo.
Frases como “meu sonho de consumo” e “quem não deve não tem” são ditas despudoradamente e servem como incentivo e desculpa para quem ainda traz certa culpa ao comprar de forma impulsiva. De repente aprendemos a viver dependentes de uma porção de coisas que na realidade não nos fazem falta. A cultura do consumismo também gerou consequentes mudanças em outras áreas como empresas em que os funcionários se digladiam por uma posição melhor e renda melhor porque é preciso atender às novas necessidades modernas. Quem não ambiciona crescer na empresa, não liga para chegar num carrão, ou ser um chefe, não é bem visto pelo grupo ou então é visto como um fracassado ou um esquisito.
Comprar foi a grande epidemia da segunda metade do século passado. Mas este fenômeno trouxe angústia, ansiedade e muita depressão. Faltou um componente básico: felicidade. E esta felicidade decididamente não está nas coisas que compramos. O fato é que realmente as pessoas estão saturadas e querem fazer o caminho de volta. Só que toda libertação custa muito caro, mas este é um preço possível e esta libertação, necessária. Evidentemente que ter dinheiro é bom, o que não é bom é viver em função dele e ser participante dessa economia de excessos. A escassez é saudável, não se trata de privação, mas viver com menos, cultivar outros prazeres que não comprar.    
Jackson lembra que curiosamente a palavra prosperidade vem do latim “prosperare”: “obter o que se deseja, ter sucesso”, e o que é melhor - “prosperus”: “afortunado”, palavra que é formada por “pro”: a favor, mais “spes”: esperança. Portanto, vamos ser prósperos no sentido da esperança de poder desmantelar essa estratégia de consumismo desenfreado e construir habilidades mais humanas para todos se saírem bem na sociedade, fora da ideia de mercado. Afinal, o homem, além de naturalmente egoísta, é também um altruísta em potencial e sempre capaz de gestos extraordinariamente altruístas.          


Nenhum comentário:

Postar um comentário