Eu
estava assistindo ao noticiário um dia desses, e me chamou a atenção a notícia
da exposição “Retratos da família brasileira 1850 – 1960” no Espaço Cultural
BNDES no centro do Rio. A coleção de fotografias é do cineasta, psicanalista e
fotógrafo José Inácio Parente. Bem, estou reportando este fato porque tudo o
que se refere a fotos antigas me fascina. Não só fotos de minha família, de
meus avós, bisavós, meus pais, tios, fotos minhas com meus irmãos de quando
éramos crianças, mas qualquer foto antiga. Mesmo de alguma cidade que nem
conheço bem como fotos do Rio e São Paulo no início do século passado, enfim,
de qualquer lugar. Eu fico perdidamente embasbacada com a foto, tipo hipnotizada
mesmo. Uma cena cheia de vida captada por uma máquina capaz de eternizar aquele
momento de mais de um século é coisa que me espanta. Acho simplesmente
fantástico!
Mas
aonde quero realmente chegar é na tragédia que acontece quando se perde uma
foto, ou melhor, quando se perdia uma foto. Hoje em dia temos tudo no
computador, escaneamos as fotos antigas e está tudo guardadinho lá. Já nos
tempos antigos, nem tão antigos assim, vamos dizer que cerca de 20 anos atrás,
muita gente ainda não tinha computador e guardava suas fotos em álbuns ou mesmo
em caixas de sapatos. O jornalista que comentou sobre a exposição de fotos do
José Inácio Parente, relatou que fez uma reportagem com as famílias que
perderam tudo quando desabou aquele prédio Palace 2 no Rio em 1998, e ele constatou que o que mais
desgostava as pessoas que ficaram literalmente com a roupa do corpo, era o fato
de terem perdido as fotos de família, fotos dos familiares, fotos de casamento,
de nascimento dos filhos, todas as fotos. Era do que mais falavam.
Quando
tivemos aquela grande enchente de 2.000 aqui em Itajubá, ouvi relatos de
pessoas que ficaram em depressão profunda por perderem tudo, mas principalmente
por perderem as fotos dos filhos quando eram crianças. Não havia cópias, nem
negativos. Simplesmente nunca mais as fotos seriam vistas. Imagine o que representa
isto para uma senhora idosa que olhava diariamente para as fotos dos filhos que
ficavam no criado-mudo de seu quarto. Fotos da Primeira Comunhão, na escola,
nos aniversários, enfim tudo o que estava ligado aos sentimentos das pessoas.
Tudo se desmanchou numa lama horrorosa que perdurou por muitos dias. A cidade
ficou debaixo de água, e quando “pescávamos” alguma coisa da lama dentro de
casa, era preciso passar a mão muitas vezes sobre o objeto para detectar do que
se tratava. Felizmente nossos álbuns de família e caixas com fotos ficavam na
parte alta de um armário no quarto de minha mãe e permaneceram intactos. Mas
ouvi de várias pessoas a tristeza que sentiram por terem perdido as fotos.
Isso
mostra a importância da fotografia. É a história de vidas. Perder as fotos
significa perder a própria referência. Obviamente que antes da invenção da
fotografia este sentimento de perda não ocorria, mas havia pinturas, as pessoas
de mais posses posavam para pintores. A fotografia é uma arte incrível, de
valor sentimental incalculável. Para mim, contemplar uma foto antiga me faz
viajar no tempo, sentir as mesmas emoções que senti no passado, tal qual ouvir
uma música me faz reviver épocas antigas. A fotografia, assim como a música,
tem o poder de reavivar lembranças. Quando minha mãe estava demente, por
sugestão da médica, colocamos fotos de seus antepassados na parede em frente a
sua cama. E quase todos os dias, ela olhava fixamente para as fotos e dizia:
minha mãe, meu pai, vovó e assim ia. Perder fotos é sim uma tragédia.
Mas
conosco ocorreu um episódio inverso. Ganhamos fotos. Explico: já quarentões,
fomos presenteados com uma surpresa maravilhosa. Ao fazer uma faxina em seus
papeis e guardados, meu pai descobriu um envelope com muitos, mas muitos
negativos, daqueles antigos. Ao olhar contra a claridade, reconhecemos nossas
inúmeras fotos já conhecidas, mas grande parte não, imaginem só: eram fotos
inéditas! Meus pais não se lembravam delas, não souberam explicar por que não
foram reveladas. Corri no fotógrafo e qual não foi nossa emoção ao contemplar
pela primeira vez fotos incríveis de nós crianças. Foi como entrar num túnel do
tempo. Um presente sem preço!
Todavia,
há um fato que não pode deixar de ser registrado: se não fosse pela minha
adorável fotógrafa, minha mãe, não teríamos fotos, a não ser aquela tradicional
de Primeira Comunhão e aquela do Grupo Escolar com o mapa mundi de fundo. Numa
época em que não se usava bater fotografias no dia a dia, minha mãe pegava sua
maquininha preta e lá ia registrando os momentos de nossa querida infância.
Percebo que para minha geração, temos mais fotos que o usual. Fica aqui minha
homenagem à mamãe que raramente esteve presente nas fotos, no entanto estava
sempre presente nos bastidores, cuidando de nós nas tarefas escolares, assando “aquela
torta de banana com suspiros”, medindo nossa febre, fazendo aqueles vestidinhos
maravilhosos com bolsinhos e lacinhos, e cumprindo o papel de nossa fotógrafa
preferida. Se não fosse ela não teríamos como herança essas fotos preciosas. Valeu
mãe!
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