Assisti a toda a série de Downton Abbey,
aliás, preciso conferir se ainda não chegou nova temporada. Esses nobres
ingleses, mesmo decadentes no início do século XX, sabiam muito bem do que era
feito o prazer. Ah que luxo! Percebo que o que mais chama a atenção de todo
mundo que comenta comigo sobre o seriado é o fabuloso staff de empregados com
seus impecáveis uniformes. O mordomo, Mr Carton, que graça, que elegância, que competência!
E a bondade e compreensão da governanta, Mrs. Hughes! Eu queria muito ser como
ela! E as roupas das condessas, as tiaras de pérolas, nossa que lindo! E a
descida para o jantar em trajes a rigor, luvas compridas, a prataria, os
cristais, o vinho servido. Fala a verdade, gente! Que beleza, como dizia minha
amiga Sandra. Lógico que tanto a história como a vida real da nobreza tem que
ter intrigas, onde é que já se viu um castelo inglês com tantos nobres e
empregados, sem intrigas?
Faz-me
lembrar de minha amiga querida, ex colega BB, quando fomos transferidas para
outra cidade. Aconteceu que a agência do banco de Itajubá cortou metade dos
funcionários e muitas de nós estávamos na lista. Da noite pro dia fomos trabalhar
em uma agência de Guaratinguetá, e confesso que foram meses muito divertidos
antes que deixássemos definitivamente o banco, sinto saudades. Certa vez em
viagem, cogitamos de irmos nós todas para um castelo na Inglaterra, onde
trabalharíamos como criadas, fazer o quê? Mas minha amiga, sempre genial, disse
que melhor não, pois tinha ouvido dizer que também por lá estavam fazendo
cortes na criadagem! E nós, como estrangeiras, seríamos as próximas.
Bem, em meu apartamento não temos
empregados, nem uma empregada, tenho apenas uma pessoa que vem de 15 em 15 dias
fazer uma limpeza mais pesada, tendo em vista que não mais trabalho fora de
casa, e assim tenho algum tempo livre. Então, nós damos conta, meu marido se
encarregando da cozinha, e eu cuidando da limpeza da casa e da roupa, em tese. Damos
conta nada. Por exemplo, ontem fez uma semana que a moça veio, e para meu
desconsolo, eu passo os olhos por qualquer canto da casa e tudo está sujo, não
sei por onde começar a limpar. A princípio adotei o método 1: limpar um cômodo
de cada vez, seguindo os dias da semana. Não deu certo, temos mais cômodos que
dias da semana. Passei a seguir o método 2: em cada dia da semana limpo uma
gaveta e uma prateleira da cozinha, uma parte de cada armário dos quartos, e
tiro o matinho de cada vaso. Também não deu certo. Mesmo que eu seguisse à
risca, quando chegava o último dia da semana, a primeira gaveta já estava pra
lá de suja. E é forno que suja, é geladeira que suja. E a gente tem que
descansar, tem que escrever, tem que ler, e um monte de outras coisas como sair
para o supermercado, farmácia, banco, ficar de bobeira, ver um filme, um
seriado, etc. Ah esqueci de dizer: ainda tem o ócio criativo que é muito
importante para quem escreve ou para quem não escreve também. Não tenho tido
tempo para o ócio criativo! Então gente, é superimportante ficar sem fazer nada,
digo, deixar os pensamentos irem e virem a bel prazer. Simplesmente não dou
conta da casa. E olhe que tem outras coisas pra fazer como namorar. Este último
item não pode jamais ser negligenciado.
E a roupa? Vai para a máquina, que
foi feita para lavar roupas, mas não é tão simples assim, a gente tem que dar
uma esfregadinha em certas roupinhas porque a máquina não vai limpar tudo direito.
Para roupas brancas, sigo o que me ensinou minha prima Inácia, boa enfermeira vestida
de uniforme branco que foi a vida toda: deixa de molho e depois esfrega com
sabonete Palmolive branco. Fica um primor. Mas não pode deixar acumular. Não
contem para ninguém, mas já houve dia em que tive que lavar 15 panos de pratos
de uma vez só. Não tenho vocação para dona de casa. Odeio limpar a casa,
confesso de peito aberto, assim como odeio fazer exercícios físicos. Quero tudo
pronto.
Enfim, e aí gente? fala a verdade, e
Downton Abbey? Que coisa de louco! Eu dispensava a criada de quarto para me
ajudar a me vestir, isso não precisava. Mas encontrar tudo limpinho, ah isso eu
queria sim. E também de vez em quando, um jantar em alto estilo, um vestido
daqueles chiquíssimos, ah, e também um chá com leite cremoso servido de bandeja
com aqueles bolos ingleses perfumados, também queria uma tiara daquelas que a
Lady Di usava, podia ser de bijuteria. E mais uma coisinha: só uma empregada e
mais outra para cobrir a folga da uma. Com tudo isso, nunca mais eu queria ver
um pano de prato sujo na minha vida. Também esqueci de outra coisa: tem que
caminhar todo santo dia, o médico mandou, gente. Ou eu caminho ou eu cuido da
casa. Fui.
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