Enquanto
eu esperava minha vez no fisioterapeuta fiquei assistindo à apresentação de
Rafaela Silva lutando pelo seu Ouro, e qual não foi minha grata surpresa quando
ela venceu a judoka da Mongólia, líder do ranking mundial. Pude vibrar junto
com milhares de brasileiros com a vitória da campeã! Como foi bom compartilhar
com o coração enternecido, as lágrimas de alegria e emoção da garota de
infância pobre da Cidade de Deus que soube batalhar pelo reconhecimento de sua
habilidade e talento. Rafaela teve que lutar contra uma vida difícil, contra o
preconceito, contra o desânimo e tristeza pela desclassificação em Londres.
Nada é fácil, mas há que se lutar.
No
mesmo dia, assisti um pouco às ginastas fazendo suas incríveis apresentações.
Uma delas, uma estrangeira, não vou saber agora dizer de onde, desequilibrou-se
várias vezes e quase caiu. Ofegante, ela fez um cumprimento usual e foi ao
encontro da treinadora que colocou as mãos em seus ombros dizendo algumas
palavras que obviamente não foram ouvidas pelo público. Pareciam ser palavras
de conforto, talvez de incentivo, talvez de ordem. A menina permaneceu de
costas ainda puxando o ar, dando mostras de que estava chorando. A treinadora,
treinada também para ser firme com as emoções, ainda falou algumas coisas e
saiu. Depois de um tempo, a ginasta voltou-se para a câmera e percebi que ela
não havia chorado, enfrentou a má apresentação com galhardia, afinal os erros
fazem parte, excetuando alguns raros semideuses que só venceram e venceram.
O
problema são os outros ou “o inferno são os outros”, como dizia Sartre. Se eu
escorregar e cair dentro de casa, ninguém vai me ver, então, vai doer, mas tudo
bem, ninguém viu. Mas em público, e com todos os olhos do mundo me observando,
ah, eu não tenho nervos de aço. Para ser um atleta olímpico, ou para chegar lá,
a pessoa tem que ter um controle mental acima da média. De duas uma: ou vai
perder ou vai ganhar. Também há duas escolhas no caso de perder: ou vai em
frente e tenta de novo ou vai pra casa e nunca mais sai. É só um jogo, não é a
vida. Não é a vida? Os jogos olímpicos são a vida para quem é atleta que chegou
tão longe. Tudo bem que não é uma arena com leões que vão te devorar como em
Roma antiga, nem são os jogos vorazes em que todos vão se destruindo, até que
reste um único vencedor. Mas perder é terrível, verdade seja dita.
Bem,
no frigir dos ovos é sempre nossa imagem que está em jogo, nossa imagem de
sucesso ou de fracasso. Mas na realidade não devemos pautar nossa vida pelos
olhos dos outros. Quando eu era uma adolescente joguei vôlei nas aulas de
educação física. E como o bullying sempre foi uma prática detestável entre os
humanos, tinha que ouvir enquanto estava jogando: a Misa vai perdeeer ... a
Misa vai perdeeer ... e eu deixava a bola cair. Como eu realmente não era muito
amiga da bola, abandonei o bendito vôlei. No entanto, um tempo depois eu ouvi
de uma colega que o professor queria saber o tinha sido feito de mim porque ele
achava que eu era boa de serviço. Nossa! Então eu era boa? Os outros? Bem, os
outros são sempre os outros.
Enfim,
devemos aprender a usar nossos fracassos como pedras para calçar nosso sucesso,
é o que fez a Rafaela Silva. Perder faz parte do jogo olímpico e do jogo da
vida. É fato. Mas não nos esqueçamos: só pisa na bola quem está em campo. Quem
passa a vida só assistindo ao jogo nunca saberá o gosto da vitória.
Parabéns
para a Rafaela! Valeu menina!
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