Li um depoimento de sua mãe sobre o
filho notável. Ela conta que Daniel veio ao mundo com 37 semanas, pesando 1,970
kg e medindo 41 centímetros. Quando soube que ele não tinha os pés e nem as
mãos, chorou muito e pediu forças a Deus. Disse ela que a primeira vez que ela
e seu pai o viram, ele, bebezinho recém-nascido, sorriu quando sentiu o carinho
em sua pele. Com quase três anos ele teve que sofrer uma cirurgia para poder
usar prótese. Sua mãe fala dos momentos de lutas, de lágrimas e de vitórias.
Ela enfatiza que o filho é um jovem especial, não por ser deficiente, mas por
ser como ele é.
Refleti sobre a importância dos pais
na vida de uma criança deficiente, seja física ou mental. Em uma entrevista
pela televisão, Daniel disse que sua mãe não “passava a mão em sua cabeça”,
dava-lhe tarefas. Ele mesmo aprendeu a arrumar sua cama, a lavar o que sujava,
a estudar. Enfim, ela o educou para a vida, queria que ele estivesse preparado
para enfrentar obstáculos e vencê-los. Quanto a ser o maior nadador paralímpico
da história, bem, certamente ela não ousou sonhar tanto, pois jamais imaginava
que ele fosse seguir o caminho dos esportes e conquistar tantas vitórias.
Fez-me lembrar de Jacques Lusseyran,
um herói cego da Resistência Francesa que conta em sua autobiografia façanhas consideradas
impossíveis às pessoas. Quando os companheiros da Resistência queriam saber se
tal pessoa era confiável, levavam-no à presença de Jascques. Ele conta que a
pessoa jamais suspeitava que ele fosse capaz de ler sua voz como se fosse um
livro. Ele ainda menino, apostava corridas com outro garoto que enxergava, e ganhava
sempre. Tendo perdido a visão em um acidente, com 7 anos, ele aprendeu a se
direcionar pelo barulho do vento, pelas folhas que farfalhavam, mas ele
aprendeu muito mais do que isso: aprendeu que a força de sua vida estava dentro
dele e havia outros olhos que não os do corpo. Dizia: “Negaram-me os olhos de
meu corpo. Outros olhos se abririam em mim: eu o sabia e queria. Jamais me veio
uma dúvida sobre a equidade de Deus... eu próprio permanecia íntegro, descobrindo
que bastava pensar nas coisas para que elas existissem e bastava querê-las para
que me fossem liberadas. Sendo cego, eu apenas tinha de querê-las mais
intensamente do que outras pessoas ... o mundo é duplo, triplo, incontável e
sempre novo.”
Parece que Daniel Dias descobriu também
esta essência, este segredo. Não se fixou nas impossibilidades, mas na força
que ele sabia possuir dentro de si. Já conquistava o mundo sem nem saber que os
poetas há séculos já diziam a quem quisesse ouvir que um desejo é mais
importante do que uma fortuna, e que um sonho é bem capaz de pesar mais do que
ferro e aço.
Na entrevista, alguém lhe perguntou
se ele não tinha momentos tenebrosos ou de simples mau-humor, pergunta cabível
e apropriada, uma vez que só vemos um largo e franco sorriso em sua face em
todas as fotos. Ele respondeu que sim, que também era humano como qualquer
pessoa. Só ele sabe de suas lutas e tal como Jacques diz em seu livro, ele já
havia aprendido que “não é sempre fácil ser diferente.”
Valeu Daniel, obrigada pelas conquistas,
parabéns por você ser uma pessoa tão especial, por você ser quem você é.
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