A última boneca que tive foi
uma boneca da Estrela, imensa, linda, com um cheiro característico de borracha.
Tinha cabelos amarelos, olhos que se abriam e fechavam em pestanas
longuíssimas. Havia uma bolsinha tão pequena e tão lindinha presa com
correntinha dourada no seu braço. Aquela bolsa ... ah ... aquela bolsa povoou
meu imaginário de menina, ficava imaginando o que poderia conter. Na verdade
não continha nada, era só de enfeite, mas para criança, tudo é possível porque
ela crê. E a roupa? Meu Deus, era cor de rosa, de organza, tecido duro e
espinhudo, com fiozinhos dourados e babados de um rosa mais delicado. Minha
boneca não era deste mundo, do meu não. Era como se uma princesa tivesse se
dignado a visitar uma menina.
Minha mãe saiu e me deixou
tomando conta de minha irmãzinha mais nova, menininha de seis meses que já
ficava sentadinha, balbuciava coisinhas, ria e chorava. Ela dormia. Foi então
que tive a ideia de vestir o vestido de minha boneca na irmãzinha. Foram duas
operações, a de despir a boneca que foi a mais fácil e a de vestir na irmã,
operação complicadíssima. Esperei que ela acordasse. Primeiro vesti pela
cabecinha, mas os bracinhos, que dificuldade! Minha irmã começou a reclamar do
jeito que podia, choramingava, batia os bracinhos, não cooperava na
brincadeira. Coitadinha, a organza espetava e ela fazia beicinhos tentando me
mostrar que não era sua roupa. Finalmente consegui. Sendo moreninha, pareceu
que o rosa ficou mais lindo ainda que na minha boneca. Levei a menininha na
frente do espelho para ver como tinha ficado linda, mas ela não se reconheceu.
Até que, enfim, minha mãe
chegou. Vinha da reza com as vizinhas. Teve a maior surpresa. Riu com gosto,
achou a caçulinha linda, saiu gritando para as vizinhas antes que entrassem em
casa. Elas também riram muito. Só Raquelzinha não achou graça, mas já estava
mais aliviada com a mãe que chegava para salvá-la.
Saudade da minha boneca,
saudade de quando a Raquel era menininha, saudade da minha mãe quando ria com
gosto!
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