Não é de hoje que a história do
“filho pródigo” me intriga. Há anos quando minha mãe ainda era viva, veio um
tio querido nos visitar e não me esqueço da conversa sobre o tema em questão que
tivemos à mesa. Eu então disse para ele:
-
Esta história nunca me convenceu. Não pode estar certo que um filho fique ao
lado dos pais batalhando a vida inteira, dando duro, cuidando, e outro
simplesmente passeia pelo mundo, torrando a grana. E aí quando já nada mais tem,
o cara volta, e o pai faz a maior festa, mata bezerro e tudo. Não. Não está
certo. Meu tio também concordou e rimos muito de nossa transgressão aos ditames
religiosos e às histórias bíblicas. Fazíamos mais por brincadeira,
levianamente, diga-se de passagem.
E
não é que anos depois esta história me aparece como uma das mais lindas
histórias que já li, ouvi e comprovei. Aquele ou aquilo que perdemos sempre
será muito mais precioso quando reencontrado do que quando o tínhamos à mão,
diante de nossos olhos e nosso coração. Lembro-me de um anel que perdi. Eu
julgava que o havia perdido em casa e o procurei em vão por todos os cantos.
Era uma joia presenteada pela tia mais bondosa e de vez em quando, depois de
tantos anos, ainda sonho com este anel. Não tive a sorte e a alegria “da mulher
que, encontrando a dracma perdida, a recoloca nos seus cofres, em meio à
alegria da vizinhança”. (Lc 15,8) Como pergunta Santo Agostinho: “por que a
alma sente mais alegria ao encontrar ou reaver os objetos que estima, do que se
os tivesse possuído sempre?” Por que só valorizamos quando os perdemos?
Mas
não vamos falar de coisas, mas de pessoas. De filhos perdidos para as drogas,
de filhos rebeldes que sempre nos contestam, de filhos que literalmente exigem
parte da herança e se vão. A história mostra. Outro dia uma amiga me contou
sobre conhecidos em que uma filha foi para longe e passou muitos anos sem
voltar. Estando a mãe doente, quis ver a filha a todo o custo. E ela quando
soube, veio. A família toda fez a maior festa que aquela casa já tinha ouvido
falar. Vivemos as histórias bíblicas a cada dia e não nos damos conta.
Vale
lembrar que o filho pródigo não voltou para extorquir mais ainda o pai que o
amava. Não. Voltou reconhecido e humilde para pedir perdão e na condição de
empregado. A volta do filho pródigo é uma linda história de amor e perdão. É um
simbólico profundo de nossa própria história enquanto cá estamos nesta vida.
Recebemos uma rica herança, dons e talentos que não só não multiplicamos, às
vezes até os enterramos. E durante toda nossa caminhada nos damos todos ao
mundo, seduzidos e escravos das piores paixões, consumidos pelas preocupações
ou confortáveis nos prazeres, contudo sempre distantes e esquecidos de Deus.
Não esperemos para voltar à casa do pai no último instante, ainda que Ele esteja
lá nos esperando com seu perdão para todo o sempre.
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