quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O OLHAR DE JACQUES



Jacques era um chileno com ascendência francesa que veio para o Brasil na década de 70. Aqui conheceu Bela, uma brasileira do sul. Apaixonaram-se perdidamente e decidiram vir para o sul de Minas e aqui construir uma nova vida. Eram jovens professores, belos, intelectuais e talentosos. Com vasto currículo, logo conseguiram lugar na universidade onde atuaram não só como professores, também como palestrantes, sempre engajados em todos os departamentos e assuntos. Acabaram virando o símbolo do casal cheio de charme e em dois tempos, como dizia minha mãe, Jacques e Bela tornaram-se o assunto do momento.
Sendo assim tão especiais, não era de se espantar que fizessem muitos amigos. E todos que frequentavam seu apartamento não saíam de lá sem um fato ou uma história interessante que podia ir desde seu relacionamento intenso até à decoração sofisticada da sala de jantar. Rapidinho, detalhes da vida de Jackes e Bela eram conhecidos pela sociedade local. Houve até quem dissesse que a sala tinha um tapete persa comprado em Kashan, numa viagem que haviam feito ao Iran. E já corria à boca pequena que o casal tinha sido visto fazendo amor na varanda, algo ousado para uma pacata cidade de Minas nos anos 70. Nada nunca foi comprovado, mas que eram excêntricos, ah isso lá eram.
Bem, entre os amigos de Jackes e Bela estavam três moças que frequentemente eram convidadas para jantares e lanches oferecidos pelo casal. Michele era uma delas. Recém-divorciada, ainda bem jovem, a moça não ficava nada a dever para a ousadia dos Jackes. Ela própria havia sido muito corajosa ao enfrentar a sociedade daquela época que se escandalizou com seu divórcio. Bem, Michele nunca se cansava de admirar o jeito que Jacques olhava para Bela. Era o olhar de um homem definitivamente apaixonado. Irremediavelmente apaixonado. Bastava Bela fazer qualquer gesto, ou contar qualquer coisa, ou simplesmente sorrir e ele se esquecia do mundo à volta e olhava para ela num jeito quase como hipnotizado, devotadamente. Bela era sua rainha.
Uma noite Michele saiu da casa dos Jacques e foi para a casa de sua mãe. Suspirou profundamente e confidenciou: mãe, eu quero outro homem, mas tem que ser especial. Eu quero um homem que olhe para mim exatamente como o Jacques olha para a Bela. E a mãe, boa amiga, apenas disse: você vai encontrar, filha!
E não é que pouco tempo depois, Michele conheceu Guilherme, um homem maduro, mais velho e charmoso? Certo dia Michele levou o namorado para a mãe conhecer. Dona Ema observou bem o casal e assim que Guilherme se despediu, a mãe disse para filha: Vai em frente porque você encontrou o homem especial que procurava! O Guilherme olha para você exatamente como o Jacques olha para a Bela. Tenho certeza!
Quanto a Jacques e Bela, um dia foram embora da cidade e nunca mais se ouviu falar deles. Não se sabe se ainda estão juntos ou se Jacques ainda olha devotadamente para Bela. Michele foi muito feliz com Guilherme. E a partir daí foi instaurado para sempre um código entre amigas e conhecidas, tipo assim um teste para saber se o cara estava perdidamente apaixonado ou não: “ele olha para você do jeito que Jacques olhava para Bela?”
Este olhar de Jacques não pode faltar, a menos que você se contente apenas com um mero casamento.   
              

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