sábado, 14 de outubro de 2017

VESTIDO DE "POIS"




            Hoje fui buscar o vestido que levei para apertar. Um primor de um vestidinho lindinho! Foi só bater os olhos para me encantar e saber que seria meu. Naquele momento todos meus esforços e intenções para não ceder à tentação de comprar sem precisar ficaram a ver navios. E quem falou que não preciso de beleza, de sonhos, de fantasia? Coisa de mulher de qualquer idade que se encanta com tudo. Sinceramente, sinto uma santa inveja, se é que a inveja pode ser santa, das mulheres despojadas e sem vaidade. Sinto sim. É lógico que desejo o desapego, é lógico que não quero ser fútil e superficial, que quero alimentar meu espírito, mas também gosto das coisas materiais, daquelas que não trazem a felicidade, mas enchem os olhos.
            Aí lembrei-me de um filme a que assisti há muito tempo mesmo com a Shirley MacLaine (acho que “Minhas vidas”) em que a personagem está em Machu Picchu para um aprendizado espiritual. E uma camponesa pede humildemente que ela lhe dê seu anel. Era uma aliança de valor afetivo que ela trazia fervorosamente presa ao dedo, e ela hesita, embora estivesse ali justamente para aprender a se desapegar das coisas deste mundo. Lembro-me com exatidão da fisionomia da personagem sofrendo ao tirar a aliança do dedo, constatando a dificuldade de se praticar o desprendimento.
            Enquanto habitarmos este corpo que também nos foi dado por Deus, haveremos de sofrer esses conflitos. Como Adélia Prado eu digo que “nenhum pecado desertou de mim.” Não ainda. Também em outro poema, Adélia fala das viúvas que logo já estavam de fitas vermelhas nos cabelos e batom nos lábios e saíam a varrer as calçadas cantando. Então, é da vida, não é?  Por enquanto vou meditando no que diz a palavra, vou refletindo sobre as vaidades deste mundo, porém não posso deixar de cobiçar um vestido bonito de “pois”, um brinquinho qualquer e um batom cor de rosa. Nada extravagante ou sofisticado, mas simplesmente bonito.
            Mais difícil do que aprender desapegar-se dessas miudezas femininas é não fazer caso de não ser querida. Facilmente entregamos nossa honra a Deus, Santa Teresa dizia, mas ai ai ai ai ai se sofremos alguma injustiça ou uma rejeiçãozinha, lá vamos nós sentidíssimas a reivindicar com Deus nossa prezada honra de volta. Li certa vez num livro sobre almas do purgatório que uma princesa pergunta a uma alma se ela, a princesa, já estaria apta espiritualmente para encontrar-se com Deus, ao que a alma responde: Não, ainda gostas muito de ser querida!
“O que vos parece?”

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