Hoje fui buscar o vestido que levei
para apertar. Um primor de um vestidinho lindinho! Foi só bater os olhos para me
encantar e saber que seria meu. Naquele momento todos meus esforços e intenções
para não ceder à tentação de comprar sem precisar ficaram a ver navios. E quem
falou que não preciso de beleza, de sonhos, de fantasia? Coisa de mulher de
qualquer idade que se encanta com tudo. Sinceramente, sinto uma santa inveja,
se é que a inveja pode ser santa, das mulheres despojadas e sem vaidade. Sinto
sim. É lógico que desejo o desapego, é lógico que não quero ser fútil e
superficial, que quero alimentar meu espírito, mas também gosto das coisas
materiais, daquelas que não trazem a felicidade, mas enchem os olhos.
Aí lembrei-me de um filme a que
assisti há muito tempo mesmo com a Shirley MacLaine (acho que “Minhas vidas”)
em que a personagem está em Machu Picchu para um aprendizado espiritual. E uma
camponesa pede humildemente que ela lhe dê seu anel. Era uma aliança de valor
afetivo que ela trazia fervorosamente presa ao dedo, e ela hesita, embora
estivesse ali justamente para aprender a se desapegar das coisas deste mundo.
Lembro-me com exatidão da fisionomia da personagem sofrendo ao tirar a aliança
do dedo, constatando a dificuldade de se praticar o desprendimento.
Enquanto habitarmos este corpo que
também nos foi dado por Deus, haveremos de sofrer esses conflitos. Como Adélia
Prado eu digo que “nenhum pecado desertou de mim.” Não ainda. Também em outro
poema, Adélia fala das viúvas que logo já estavam de fitas vermelhas nos
cabelos e batom nos lábios e saíam a varrer as calçadas cantando. Então, é da
vida, não é? Por enquanto vou meditando no
que diz a palavra, vou refletindo sobre as vaidades deste mundo, porém não
posso deixar de cobiçar um vestido bonito de “pois”, um brinquinho qualquer e
um batom cor de rosa. Nada extravagante ou sofisticado, mas simplesmente
bonito.
Mais difícil do que aprender
desapegar-se dessas miudezas femininas é não fazer caso de não ser querida.
Facilmente entregamos nossa honra a Deus, Santa Teresa dizia, mas ai ai ai ai
ai se sofremos alguma injustiça ou uma rejeiçãozinha, lá vamos nós sentidíssimas
a reivindicar com Deus nossa prezada honra de volta. Li certa vez num livro
sobre almas do purgatório que uma princesa pergunta a uma alma se ela, a
princesa, já estaria apta espiritualmente para encontrar-se com Deus, ao que a
alma responde: Não, ainda gostas muito de ser querida!
“O
que vos parece?”
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