Fim de ano se aproximando, agitação
no ar. Não há como não me deixar afetar pelo clima das festas. Como tudo em mim
é permanentemente contraditório desde o raiar do dia até o anoitecer, faça
chuva, faça sol, sinto uma alegria mesclada com tristeza. Lembranças me
assaltam, notícias me assustam e projetos pipocam assando meu cérebro. Já estou
acostumada com meu ritmo de oito ou oitenta, então não esquento nem me
apoquento. A vida há de seguir como quiser fazendo ouvidos moucos aos nossos
queixumes ou expectativas. Não dobrar a cerviz à adversidade é o lema para este
final de ano ou início do próximo. Uma coisa é certa, tudo é possível, a vida
sempre vai nos surpreender. Contudo quase tudo depende de nossa férrea vontade de
construir de novo, pedra sobre pedra. A vida exige uma parceria.
É preciso ter em mente que nada cai
do céu, tudo neste mundo ou nesta vida tem que ser construído. O sucesso
dependerá do tamanho do desejo que acalentamos no coração. Por um acaso ou
talvez não tenha sido tanto assim por um acaso, li dois fatos que têm tudo a
ver com o que quero dizer. Rubem Alves contava em uma crônica que se mudou para
uma casa bem ao lado de um terreno baldio, seco, onde nada crescia. Sempre que
saía à janela dava com aquele triste pedaço de terra devastado. Então ele
decidiu fazer daquele terreno um jardim. Trabalhou arduamente para transformar
o solo, arrancou as pedras, ralou os joelhos trabalhando a terra, sujou as
mãos, derramou suor. Depois de um tempo, nasciam os primeiros brotos, as
primeiras flores, a grama verde. Até que finalmente ele teve o prazer de
contemplar um maravilhoso jardim.
Também li, embora já soubesse disso,
que o Central Park em Manhattan é um parque totalmente artificial. Quem já foi
lá, ou viu em filmes achará inacreditável que toda aquela exuberância da
natureza tenha sido criada pelo homem a partir de pântanos e pedras. Os lagos,
cascatas e árvores frondosas nem sempre estiveram lá. Tudo foi projetado
arquitetonicamente combinando uma firme vontade e um fervoroso desejo de se ter
um parque cheio de beleza. Onde houver um homem e um desejo certamente algo
será criado.
Assim também podemos e devemos
construir jardins frondosos onde pensávamos não ser mais possível que alguma
coisa florescesse dentro de nós. Pelas perdas, pelo cansaço da vida, pelas
palavras duras que nos impingiram ou talvez pelo perdão que não nos concederam,
podemos ter perdido a fé em nós mesmos. Urge trabalhar o solo machucado pelas
pedras. Quando intempéries sobrevierem e tudo parecer um caos devastador, vamos
nos lembrar de que dentro de nós sempre existe um jardim com águas cristalinas
e flores raras esperando ser cultivado. Mãos à obra! Nossa vida é um eterno
reconstruir e “os que constroem de novo são alegres” (W.B.Yeats).
Sem
querer parodiar Obama, mas parodiando, “sim, nós podemos.”
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