sexta-feira, 4 de maio de 2018

DIPLOMA FINAL

 
            Há poucas semanas postei uma crônica sobre “envelhecer (o que fazer?)”. Mas o que fiz foi tecer comentários jocosos sobre a luta das mulheres para não perderem o encanto, o viço, a beleza. Eu quis brincar um pouco com o fato de que nada podemos fazer a não ser aceitar a situação de que tudo em nós envelhece. Achei até muito interessante ler o que uma amiga comentou certa vez: só a cor de nossos olhos não envelhece. Tudo bem. A gente precisa brincar um pouco para não levar a vida muito a sério.
            Ocorre que assisti por vídeo a uma palestra da geriatra Ana Cláudia Quintana sobre “Como envelhecer”. Uma palestra séria, real. Nada de novo, o óbvio, tudo o que todo mundo já sabe, porém algo tão bem articulado e com tantas metáforas geniais que penso que deveríamos assistir a esta palestra diariamente para não nos esquecermos deste óbvio que negamos a todo instante. É preciso aceitar e encarar o óbvio com coragem. Vamos envelhecer, é claro, mas não se trata de perder o viço da pele ou o peso das pelancas. Esqueçamos disso, é bobagem, é o de menos. O problema é a saúde, é a independência, que pouco a pouco, vai nos abandonando. Uma coisa é saber e outra coisa é viver, é sentir na pele a falta de autonomia, é sentir os efeitos das doenças que rondam nossos frágeis corpos que não foram feitos para durar eternamente.
            Evidentemente que esta crônica não se destina a você jovem porque os jovens se sentem eternos e estão certos. É natural, é normal. Nunca vi um jovem saudável e cheio de ideais se preocupar com a velhice, muito menos com a morte, aliás, até seria algo mórbido para sua idade. O que repasso é para nós, pessoas mais velhas que já nos preocupamos com o peso da vida e com o que ela nos trará.
            Bem, a geriatra enfatiza o que já sabemos, mas é justamente o que já sabemos que devemos saber de novo e mais e mais. Fisicamente, ter sempre o cuidado com alimentos que vão gerir nosso corpo. Sem dúvida que somos o que comemos. Gente, exercícios físicos, pelo amor de Deus, mexa-se, mexa-se e mexa-se. Nossos corpos não foram feitos para ficarem parados. Ah, mas fulana fazia tudo isso e ficou doente e morreu. É verdade. Mas se não fizermos, as probabilidades de doenças serão maiores. E as probabilidades de não poder mais andar, caminhar serão maiores. E depois tem outra, como diz o outro, vamos todos morrer. A grande sacada é viver bem até lá. Não morrer não acontecerá.
            E vem a parte ótima sobre a mente, o aprendizado constante de que não podemos prescindir. A mente é poderosa, mas deve ser exercitada diariamente. Cantar, decorar, mas alto lá: só cantar e cantar as mesmas coisas de sempre não vale! Tem que ter o elemento novo. A mente precisa do novo. Fazer crochê e tricô, tudo bem, mas tem que aprender o ponto novo. Os neurônios clamam de joelhos por diversidade! Daqui a alguns dias vamos comemorar nosso aniversário, eu mais duas amigas. Vamos dançar e cantar em espanhol porque não nos sentimos velhas. E para decorar as letras? Santo Deus! Que trabalho! A impressão que tive é que meus neurônios foram despertados de um sono milenar e esfregando os olhos se perguntaram estupefatos: o que está acontecendo? Estão nos chamando ao trabalho! Dra. Ana Cláudia insiste: aprender música, cantar, cantar novas músicas, soltar a voz em algum coral, no chuveiro. Fortalecer a musculatura da garganta, das cordas vocais. Já perceberam como nossa voz muda? Eu já. 
            E além de aprender música e cantar, também meditar. A meditação que é cuidar do ser interior que somos e que temporariamente habitamos este invólucro, a meditação que nos dará serenidade. Ao longo da vida vamos acumulando perdas, perdas de pessoas, de lugares, de coisas, e de capacidades e de habilidades. Se você não alimentar o seu ser interior ou seu espírito com meditação, ele ficará mais fraco do que seu corpo.
            Podemos viver muito bem, mas ainda sim o desfecho será a morte. Tudo bem, só que estaremos em paz, com nossa missão cumprida. E podemos nos tornar tão grandes espiritualmente que já não caberemos em nossos corpos. “Um software muito potente num PC pequeno queima. E o último dia de sua vida será o dia em que você receberá seu diploma de Ser humano.”
            Nossa gente, que lição! Que aprendizado! Que beleza! A crônica é minha, mas as palavras são da Dra. Ana Cláudia Quintana. Assistam ao vídeo. Tudibom.          

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