Há poucas semanas postei uma crônica
sobre “envelhecer (o que fazer?)”. Mas o que fiz foi tecer comentários jocosos
sobre a luta das mulheres para não perderem o encanto, o viço, a beleza. Eu quis
brincar um pouco com o fato de que nada podemos fazer a não ser aceitar a
situação de que tudo em nós envelhece. Achei até muito interessante ler o que
uma amiga comentou certa vez: só a cor de nossos olhos não envelhece. Tudo bem.
A gente precisa brincar um pouco para não levar a vida muito a sério.
Ocorre que assisti por vídeo a uma
palestra da geriatra Ana Cláudia Quintana sobre “Como envelhecer”. Uma palestra
séria, real. Nada de novo, o óbvio, tudo o que todo mundo já sabe, porém algo
tão bem articulado e com tantas metáforas geniais que penso que deveríamos
assistir a esta palestra diariamente para não nos esquecermos deste óbvio que
negamos a todo instante. É preciso aceitar e encarar o óbvio com coragem. Vamos
envelhecer, é claro, mas não se trata de perder o viço da pele ou o peso das
pelancas. Esqueçamos disso, é bobagem, é o de menos. O problema é a saúde, é a
independência, que pouco a pouco, vai nos abandonando. Uma coisa é saber e
outra coisa é viver, é sentir na pele a falta de autonomia, é sentir os efeitos
das doenças que rondam nossos frágeis corpos que não foram feitos para durar
eternamente.
Evidentemente que esta crônica não
se destina a você jovem porque os jovens se sentem eternos e estão certos. É
natural, é normal. Nunca vi um jovem saudável e cheio de ideais se preocupar
com a velhice, muito menos com a morte, aliás, até seria algo mórbido para sua
idade. O que repasso é para nós, pessoas mais velhas que já nos preocupamos com
o peso da vida e com o que ela nos trará.
Bem, a geriatra enfatiza o que já
sabemos, mas é justamente o que já sabemos que devemos saber de novo e mais e
mais. Fisicamente, ter sempre o cuidado com alimentos que vão gerir nosso
corpo. Sem dúvida que somos o que comemos. Gente, exercícios físicos, pelo amor
de Deus, mexa-se, mexa-se e mexa-se. Nossos corpos não foram feitos para
ficarem parados. Ah, mas fulana fazia tudo isso e ficou doente e morreu. É
verdade. Mas se não fizermos, as probabilidades de doenças serão maiores. E as
probabilidades de não poder mais andar, caminhar serão maiores. E depois tem
outra, como diz o outro, vamos todos morrer. A grande sacada é viver bem até
lá. Não morrer não acontecerá.
E vem a parte ótima sobre a mente, o
aprendizado constante de que não podemos prescindir. A mente é poderosa, mas
deve ser exercitada diariamente. Cantar, decorar, mas alto lá: só cantar e
cantar as mesmas coisas de sempre não vale! Tem que ter o elemento novo. A
mente precisa do novo. Fazer crochê e tricô, tudo bem, mas tem que aprender o
ponto novo. Os neurônios clamam de joelhos por diversidade! Daqui a alguns dias
vamos comemorar nosso aniversário, eu mais duas amigas. Vamos dançar e cantar em
espanhol porque não nos sentimos velhas. E para decorar as letras? Santo Deus! Que
trabalho! A impressão que tive é que meus neurônios foram despertados de um
sono milenar e esfregando os olhos se perguntaram estupefatos: o que está
acontecendo? Estão nos chamando ao trabalho! Dra. Ana Cláudia insiste: aprender
música, cantar, cantar novas músicas, soltar a voz em algum coral, no chuveiro.
Fortalecer a musculatura da garganta, das cordas vocais. Já perceberam como
nossa voz muda? Eu já.
E além de aprender música e cantar,
também meditar. A meditação que é cuidar do ser interior que somos e que
temporariamente habitamos este invólucro, a meditação que nos dará serenidade. Ao
longo da vida vamos acumulando perdas, perdas de pessoas, de lugares, de coisas,
e de capacidades e de habilidades. Se você não alimentar o seu ser interior ou
seu espírito com meditação, ele ficará mais fraco do que seu corpo.
Podemos viver muito bem, mas ainda
sim o desfecho será a morte. Tudo bem, só que estaremos em paz, com nossa
missão cumprida. E podemos nos tornar tão grandes espiritualmente que já não
caberemos em nossos corpos. “Um software muito potente num PC pequeno queima. E
o último dia de sua vida será o dia em que você receberá seu diploma de Ser
humano.”
Nossa gente, que lição! Que aprendizado!
Que beleza! A crônica é minha, mas as palavras são da Dra. Ana Cláudia
Quintana. Assistam ao vídeo. Tudibom.
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